Há
13 anos escrevi um texto intitulado “A Guerra do Trânsito”. O título fazia
referência ao número diário de mortos em acidentes nas ruas e estradas, que
chegava próximo a 120 no Brasil e 4.000 no mundo. Embora este número (de óbitos
de trânsito diários no mundo) seja menor que o de vítimas da 2ª Guerra Mundial
– que chegou a 38.000,00 - está acima do de outros conflitos, como as Guerras
da Secessão e do Vietnã, com 500 vítimas diárias. Só no Brasil, os mortos
superam em 3 vezes os brasileiros mortos por dia na guerra do Paraguai.
Da data de publicação do
artigo até hoje, o Brasil já perdeu mais de 570 mil vidas no trânsito, ou seja:
a guerra continua. É uma tragédia considerável pelo número de mortos, e ainda
mais catastrófica pelo tempo que vem se desenrolando, lembrando ainda que não
tem prazo para terminar.
Mas por que transitamos?
O
homem é um ser nômade por natureza. Desde os tempos pré-históricos, sua
sobrevivência estava intimamente ligada a movimentos migratórios de tribos
inteiras em busca de alimentos e proteção.
Com a evolução da
civilização e a criação do automóvel e outros veículos, tornou-se necessária a
construção de estrutura gigantesca de vias, estradas, ruas, para facilitar o
deslocamento de pessoas, animais e mercadorias para diversos lugares do
planeta. Também foi imprescindível criar leis e regras para regular a
circulação e tecnologia de deslocamento e segurança. A movimentação de bens e seres, envolvendo
suas características, diversidades e regramento, compreende o que genericamente
denominamos de Trânsito.
Os setores relacionados ao
Trânsito compõem a maior força econômica do planeta, gerando valores
financeiros consideráveis, alta carga tributária e um grande número de postos
de trabalho, contabilizando-se empregos diretos e indiretos.
Concordando-se
ou não, as guerras têm objetivos envolvidos. As justificativas podem ser
altruístas (por exemplo, busca por justiça, igualdade, liberdade, equilíbrio,
respeito) ou misantropia, ambição, cobiça, avidez. É um jogo de objetivo e
conquista, sendo a morte a sua representação maior.
Já as mortes no trânsito
são falhas indesejáveis do fenômeno
de deslocamento. Os acidentes podem causar óbitos ou ferimentos graves, gerando
sequelas físicas e emocionais, além de horas, dias, anos de trabalho perdidos.
Por este motivo, são extremamente relevantes para a saúde pública, sendo
considerados “a doença social que vitima
milhões de pessoas por ano no mundo, segundo o Transportation Research Board
(1990)”, ficando apenas um pouco atrás das doenças do coração e do câncer.
Ao contrário das outras doenças e como agravante, concentra os óbitos na camada
mais jovem da população, aumentando os prejuízos econômicos e sociais causados.
Para
compreender o “evento acidente”, é fundamental a análise do funcionamento do
“fenômeno trânsito”, para que se possam definir as ações necessárias para
minimizar este tipo de ocorrência.
Três elementos interagem no
contexto sócio comportamental que
forma o trânsito: o homem, a via e o
veículo. O acidente é consequência da falha de um ou mais componentes deste
trinômio. O diagrama abaixo mostra a participação
de cada elemento no evento acidente, destacando o fator humano.
O acidente de trânsito é
muito mais complexo do que a imagem simplista apresentada pela mídia, que
normalmente destaca o comportamento individual dos motoristas, sem levar em
conta a participação da iniciativa privada, da sociedade e, principalmente, do poder
público.
Assim, como o próprio
Código de Trânsito Brasileiro define em seus Anexos, TRÂNSITO é
movimentação e imobilização de veículos, pessoas e animais nas vias terrestres.
Envolve leis, normas, regras, tecnologias e relações humanas, muitas
vezes de forma conflituosa e caótica. É um processo interativo entre o ser
humano, o veículo e a via. Seu funcionamento depende da harmonia dinâmica desta
inter-relação, com responsabilidade direta, em vários níveis, dos usuários, poder público e da iniciativa
privada.
O ACIDENTE, embora usual, é
um evento indesejável, que causa mortes e prejuízos. Em muitas situações, pode
ser evitado, dependendo, para isto, de ações concretas, rigorosas e
comprometidas por parte de todos os participantes do fenômeno trânsito.
Aprofundaremos
a questão, discorrendo sobre detalhes de cada elemento envolvido no processo em
discussão, com a finalidade de trazer entendimento e conhecimento relevantes à
adequada formulação de procedimentos e políticas que possam contribuir com a
redução significativa de danos pessoais e materiais decorrentes de sinistros.
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